Direitos Humanos e Direito Internacional
25/10/2024O desempenho de alunos cotistas nas universidades públicas brasileiras tem sido objeto de diversas pesquisas, que buscam entender as nuances dessa experiência acadêmica em comparação com alunos não cotistas. Um ponto central que emerge da literatura é que, em muitos casos, não há diferenças significativas de desempenho acadêmico entre esses dois grupos, embora fatores socioeconômicos desempenhem um papel crucial.
Estudos como o de Galvão et al. [1] e Santos et al. [2] indicam que as características socioeconômicas dos alunos influenciam seu desempenho, e que a presença de professores qualificados, como aqueles com doutorado, pode beneficiar tanto cotistas quanto não cotistas. A pesquisa de Chene et al. [3] também reforça essa ideia, mostrando que, ao comparar o coeficiente de rendimento (CR) de alunos cotistas e não cotistas, a diferença observada é mínima, especialmente quando se considera a área de conhecimento. De fato, Cavalcanti et al. [4] encontraram que, embora os cotistas apresentem um desempenho aparentemente inferior em algumas áreas, essa diferença é mais pronunciada nas Ciências da Saúde, sugerindo que as disparidades de desempenho podem ser mais atribuídas a fatores externos do que à própria política de cotas.
Além disso, Valente e Berry [5] e Ferreira et al. [6] apontam que, em análises de desempenho acadêmico, os alunos cotistas frequentemente alcançam resultados semelhantes aos de seus colegas não cotistas, especialmente em contextos onde a inclusão e a assistência estudantil são bem implementadas. A pesquisa de Silva et al. [7] corroborou essa visão, afirmando que, na maioria dos cursos, não há diferença estatisticamente significativa no desempenho entre os dois grupos. Isso sugere que as políticas de inclusão, quando bem estruturadas, podem efetivamente nivelar o campo de jogo acadêmico.
Por outro lado, algumas investigações, como a de Lima et al. [8] e Dário e Nunes [9], revelam que, apesar das semelhanças no desempenho, existem diferenças em taxas de evasão e abandono, com cotistas apresentando índices de evasão menores em certos contextos. Isso pode ser interpretado como um indicativo de que, embora os cotistas enfrentem desafios adicionais, eles também demonstram uma resiliência que pode ser atribuída ao suporte social e institucional que recebem.
Por fim, a análise de Júnior & Ferreira [10] e Wainer e Melguizo [11] sugere que, em termos de desempenho acadêmico, os alunos cotistas têm se saído bem, especialmente quando considerados em um contexto de políticas de inclusão e apoio acadêmico. A pesquisa de Queiroz et al. [12] também destaca a importância de entender as novas formas de acesso ao ensino superior e como isso impacta o desempenho acadêmico.
Em suma, a literatura sugere que o desempenho de alunos cotistas nas universidades públicas é, em muitos casos, comparável ao de seus colegas não cotistas, com as disparidades de desempenho frequentemente atribuídas a fatores socioeconômicos e ao contexto educacional prévio. A implementação eficaz de políticas de inclusão e suporte acadêmico é fundamental para garantir que todos os alunos, independentemente de sua origem, tenham a oportunidade de alcançar seu potencial acadêmico.
Referências:
- Galvão et al. “Ações afirmativas: um estudo do diferencial de desempenho acadêmico entre estudantes cotistas e não cotistas da UFV-CRP” Educação e pesquisa (2023) doi:10.1590/s1678-4634202349257324
- Santos et al. “Cotas e Desempenho na Universidade Federal da Bahia: uma análise dos ingressantes de 2010 a 2012” Revista economia ensaios (2016) doi:10.14393/ree-v31n1a2016-10
- Chene et al. “SISTEMA DE COTAS E DESEMPENHO ACADÊMICO: ESTUDO SECCIONAL EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA” Revista ciência plural (2023) doi:10.21680/2446-7286.2023v9n1id29265
- Cavalcanti et al. “Desempenho acadêmico e o sistema de cotas no ensino superior: evidência empírica com dados da Universidade Federal da Bahia” Avaliação revista da avaliação da educação superior (campinas) (2019) doi:10.1590/s1414-407720190001000016
- Valente and Berry “Performance of Students Admitted through Affirmative Action in Brazil” Latin american research review (2017) doi:10.25222/larr.50
- Ferreira et al. “Ações afirmativas: análise comparativa de desempenho entre estudantes cotistas e não cotistas em uma universidade pública” Revista brasileira de política e administração da educação (2020) doi:10.21573/vol36n32020.101627
- Silva et al. “Sistema de cotas e desempenho: uma comparação entre estudantes cotistas e não cotistas” Administração pública e gestão social (2020) doi:10.21118/apgs.v12i3.6125
- Lima et al. “ANÁLISE ESTATÍSTICA DO DESEMPENHO DE ALUNOS COTISTAS VERSUS NÃO COTISTAS: UM ESTUDO SOBRE O RENDIMENTO ESCOLAR DE ESTUDANTES DE CURSO TÉCNICO INTEGRADO” Revista brasileira da educação profissional e tecnológica (2020) doi:10.15628/rbept.2020.7900
- Dário and Nunes “AVALIAÇÃO DE COTISTAS E NÃO COTISTAS: UMA ANÁLISE DO DESEMPENHO ACADÊMICO E DA EVASÃO EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO” (2021) doi:10.22533/at.ed.02721220912
- Júnior and Ferreira “Uma análise da progressão dos alunos cotistas sob a primeira ação afirmativa brasileira no ensino superior: o caso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro” Ensaio avaliação e políticas públicas em educação (2014) doi:10.1590/s0104-40362014000100003
- Wainer and Melguizo “Políticas de inclusão no ensino superior: avaliação do desempenho dos alunos baseado no Enade de 2012 a 2014” Educação e pesquisa (2017) doi:10.1590/s1517-9702201612162807
- Queiroz et al. “A lei de cotas na perspectiva do desempenho acadêmico na Universidade Federal de Uberlândia” Revista brasileira de estudos pedagógicos (2015) doi:10.1590/s2176-6681/339112863
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