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05/04/2025
Formação do Direito Moderno
24/04/2025A Geopolítica da Inteligência Artificial é um campo emergente de estudo que analisa as interconexções entre a influência crescente da IA nas relações de poder internacionais e as estratégias geopolíticas adotadas por Estados e corporações globais (Brigola, 2020; Kunz et al., 2022). Ela articula conceitos tradicionais da geopolítica, como território, recursos e poder militar, com as dinâmicas introduzidas pelas tecnologias de IA, que estão reformulando a segurança, a economia e até a cultura em escala global (Brigola, 2020; Ferreira et al., 2023). Este campo examina como a IA não apenas amplia o escopo da geopolítica, mas também exige uma reavaliação de conceitos fundamentais como soberania e domínio, agora mediados por algoritmos e sistemas automatizados capazes de influenciar processos decisórios em níveis nacional e internacional (Pasco et al., 2023; Sichman, 2021).
Historicamente focada na análise de espaços territoriais, a geopolítica agora incorpora a dimensão digital, onde dados e algoritmos se tornam ativos estratégicos comparáveis aos recursos naturais (Ferreira et al., 2023; Kunz et al., 2022). A capacidade de coletar, processar e aplicar grandes volumes de dados confere uma vantagem significativa, transformando a informação na “moeda da soberania” na era digital (Sichman, 2021; Ferreira et al., 2023). A competição entre Estados pela liderança na produção e aplicação de IA influencia diretamente a segurança cibernética, as dinâmicas econômicas e a própria ordem mundial (Ferreira et al., 2023; Kunz et al., 2022; Pasco et al., 2023).
Essa corrida tecnológica, um elemento central da geopolítica da IA, manifesta-se em investimentos massivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), na busca por autonomia em tecnologias críticas como semicondutores, e na formação de alianças estratégicas (Ferreira et al., 2023; Sichman, 2021; Brigola, 2020). A posse do conhecimento computacional e a capacidade de inovar convertem-se em diferenciais de poder, catalisando mudanças estruturais na ordem mundial e redefinindo papéis de hegemonia (Kunz et al., 2022; Pasco et al., 2023; Ferreira et al., 2023).
Nesse contexto de intensa competição econômica e tecnológica (Ferreira et al., 2023; Sichman, 2021), a ascensão da China como um ator central na IA ganha destaque. O desenvolvimento e a disponibilização de ferramentas de IA de baixo custo ou de código aberto por empresas chinesas, como o modelo DeepSeek, representam um fator disruptivo. Essa estratégia pode acelerar a adoção global da IA, democratizar o acesso a tecnologias avançadas que antes eram restritas a grandes corporações ou países ricos, e intensificar ainda mais a corrida pela liderança tecnológica. Por outro lado, também desafia a hegemonia de players ocidentais e levanta questões sobre padrões de segurança, ética e o potencial uso dessas ferramentas em contextos diversos, impactando diretamente o equilíbrio geopolítico (Brigola, 2020; Pasco et al., 2023). A oferta de alternativas acessíveis pode reconfigurar cadeias de valor globais e influenciar a dependência tecnológica de outras nações.
A geopolítica da IA também abrange a segurança, analisando como sistemas inteligentes transformam as capacidades de defesa, vigilância e inteligência, permitindo monitoramento em tempo real e análise preditiva (Pasco et al., 2023; Sichman, 2021). O uso de IA em operações militares e de inteligência reconfigura a arquitetura de segurança internacional, ao mesmo tempo que levanta profundos debates éticos sobre privacidade, direitos humanos e a autonomia de sistemas de armas (Ferreira et al., 2023; Kunz et al., 2022; Brigola, 2020). A capacidade de analisar dados geoespaciais com IA fortalece estratégias de mapeamento, vigilância e alocação de recursos, tornando-se uma dimensão crucial (Pasco et al., 2023; Ferreira et al., 2023; Sichman, 2021).
Além disso, a IA influencia a governança interna e a política externa. Algoritmos participam na formulação de políticas públicas, na administração de recursos e na análise preditiva de cenários (Pasco et al., 2023; Sichman, 2021; Ferreira et al., 2023). Isso exige a criação de marcos regulatórios que equilibrem eficiência e princípios democráticos, abordando a transparência e a responsabilidade algorítmica (Brigola, 2020; Sichman, 2021; Pasco et al., 2023). A “soberania algorítmica” emerge como a capacidade estatal de controlar fluxos de informação e os algoritmos que os processam, ligada diretamente à posição global de um país (Pasco et al., 2023; Ferreira et al., 2023; Kunz et al., 2022).
A regulamentação internacional e a governança global tornam-se campos de disputa e cooperação, com organizações buscando estabelecer normas comuns para mitigar riscos e promover competição justa (Kunz et al., 2022; Brigola, 2020; Pasco et al., 2023). A influência de corporações transnacionais e a necessidade de ecossistemas colaborativos internacionais entre universidades, centros de pesquisa e empresas também são aspectos centrais, mostrando que a geopolítica da IA transcende atores estatais (Pasco et al., 2023; Ferreira et al., 2023; Kunz et al., 2022).
Em suma, a Geopolítica da Inteligência Artificial estuda a interação multidimensional entre os avanços em IA e a reconfiguração do poder global. Ela abrange desde a competição por supremacia tecnológica e econômica até as transformações na segurança, governança, ética e cultura, destacando a IA não apenas como uma ferramenta, mas como um agente central na definição das futuras dinâmicas internacionais (Brigola, 2020; Kunz et al., 2022; Pasco et al., 2023; Ferreira et al., 2023; Sichman, 2021). A emergência de ferramentas de baixo custo como o DeepSeek exemplifica como a inovação contínua e a estratégia de disseminação tecnológica podem alterar rapidamente o cenário competitivo global.
Referências:
Brigola, H. (2020). A trajetória da geopolítica: do banimento acadêmico pós-segunda guerra ao desenvolvimento da geopolítica crítica. Geografia (Londrina), 29(1), 9. https://doi.org/10.5433/2447-1747.2020v29n1p9
Ferreira, C., Redkva, P., & Sandrino, B. (2023). Semicondutores na era digital: evolução, desafios e implicações geopolíticas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo Do Conhecimento, 133-150. https://doi.org/10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/tecnologia/semicondutores
KUNZ, S., ARAUJO, G., SILVA, E., & ANTUNES, J. (2022). Geopolítica do continente africano no século xxi., 39-72. https://doi.org/10.48209/978-65-5417-041-0
Pasco, C., Viterbo, J., & Bernardini, F. (2023). Desafios para a computação na implementação e implantação de solução baseada em ia em governo: uma análise da literatura.. https://doi.org/10.5753/wcge.2023.229869
Sichman, J. (2021). Inteligência artificial e sociedade: avanços e riscos. Estudos Avançados, 35(101), 37-50. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2021.35101.004