Pacta Sunt Servanda
03/06/2024Partidos Digitais
04/06/20241. Atuação Digital do Estado
A atuação digital do Estado é fundamental para concretizar e aperfeiçoar a democracia no Brasil. No mundo contemporâneo, em que a tecnologia permeia todos os aspectos da vida cotidiana, é imprescindível que o Estado promova o acesso à internet e à informação como direitos básicos para a cidadania. Isso não apenas garante que todos os cidadãos possam se informar e se expressar livremente, mas também que possam usufruir dos serviços públicos digitais que o Estado oferece.
Além disso, a atuação digital do Estado se estende para além da prestação de serviços. Ela engloba a promoção de políticas públicas que são discutidas, elaboradas e implementadas com a participação ativa dos cidadãos através de meios digitais. Os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – têm a capacidade de atuar digitalmente, o que permite não só a eleição de representantes, mas também a realização de atos de controle e a participação direta dos cidadãos em processos decisórios. Isso pode incluir desde a elaboração até a modificação de leis, tornando o processo democrático mais inclusivo e representativo.
A digitalização do Estado abre portas para uma democracia mais dinâmica, onde a distância entre governantes e governados pode ser reduzida. A transparência e a responsabilidade são aumentadas, e os cidadãos têm mais ferramentas para fiscalizar e influenciar as decisões que afetam suas vidas. Assim, a atuação digital do Estado não é apenas uma questão de modernização tecnológica, mas um passo essencial para uma democracia mais robusta e participativa.
2. Eleições Digitais e Urnas Eletrônicas
A jornada do Brasil rumo às eleições digitais é um marco na história da democracia do país. Embora as eleições 100% digitais ainda não sejam uma realidade no Brasil, o uso da urna eletrônica representa um passo significativo nessa direção. Introduzida em 1989 em Brusque-SC, a votação eletrônica foi uma inovação que prometia transformar o processo eleitoral brasileiro1.
Em 1995, a Comissão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu os requisitos para a urna eletrônica, estabelecendo as bases para um sistema de votação seguro e eficiente2. Já em 1996, a urna eletrônica foi utilizada em 57 municípios, abrangendo 32 milhões de votos, o que correspondia a um terço do total de votos naquele ano3. Esse foi um teste crucial que provou a eficácia do sistema.
O ano 2000 marcou a primeira eleição totalmente digital no Brasil, consolidando o uso das urnas eletrônicas em todo o território nacional4. Avançando para 2020, mais de 147 milhões de eleitores votaram em mais de 400 mil urnas eletrônicas distribuídas em 5.567 municípios, demonstrando a capacidade do Brasil de realizar a maior eleição informatizada do mundo5.
Nas eleições gerais de 2022, o número de urnas eletrônicas aumentou para 577 mil, reforçando a confiança e a rapidez do sistema eleitoral brasileiro4. As urnas eletrônicas são conhecidas por sua confiabilidade e por não estarem conectadas à internet, o que as protege contra ataques cibernéticos. Além disso, antes de cada eleição, elas passam por testes públicos de segurança, e até hoje, nenhuma vulnerabilidade foi encontrada após a implementação de mais de 30 barreiras digitais3.
A adoção da urna eletrônica no Brasil é um exemplo de como a tecnologia pode ser empregada para fortalecer a democracia. Embora ainda haja espaço para avançar em direção a eleições totalmente digitais, o sistema atual já proporciona uma base sólida para o desenvolvimento contínuo da democracia digital no país.
3. Democracia Digital e a Participação Cidadã no Brasil
A democracia digital no Brasil tem se fortalecido através de diversas iniciativas que buscam ampliar a participação cidadã no Estado. Essas iniciativas são fundamentais para garantir que a voz dos cidadãos seja ouvida e que possam contribuir ativamente para a formulação de políticas públicas e leis.
Portal e-Cidadania (Senado Federal): O portal e-Cidadania é uma das ferramentas mais importantes do Senado Federal para promover a participação cidadã. Ele oferece três mecanismos principais1:
- Ideia Legislativa: Permite que os cidadãos enviem e apoiem ideias legislativas. As ideias que alcançarem 20 mil apoios são encaminhadas para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), onde são analisadas e podem se tornar projetos de lei.
- Evento Interativo: Os cidadãos podem participar de audiências públicas, sabatinas e outros eventos abertos. Durante esses eventos, é possível enviar comentários e acompanhar a transmissão ao vivo.
- Consulta Pública: Oferece a oportunidade de opinar sobre projetos de lei e outras proposições em tramitação no Senado Federal, permitindo que os cidadãos expressem suas opiniões até a deliberação final.
e-Democracia (Câmara dos Deputados): A Câmara dos Deputados também possui o portal e-Democracia, que inclui ferramentas como audiências interativas, Wikilegis e Pauta Participativa. Essas ferramentas possibilitam que os cidadãos contribuam para a construção de projetos de lei e participem de debates sobre temas relevantes2.
Essas iniciativas digitais são essenciais para fortalecer a capacidade concorrencial da cidadania, consolidar uma sociedade de direitos e promover a diversidade de agentes e agendas na discussão pública e nas instâncias de decisão política3. Elas representam um avanço significativo na forma como o Estado brasileiro interage com seus cidadãos, oferecendo canais diretos de comunicação e influência nas decisões políticas.
A democracia digital no Brasil está em constante evolução, e essas plataformas são exemplos de como a tecnologia pode ser utilizada para criar um ambiente mais inclusivo e participativo, onde todos têm a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento da nação.
4. Conclusão
A democracia digital no Brasil está em um caminho promissor, com o potencial de transformar radicalmente a maneira como o Estado opera e como os cidadãos participam da vida pública. As iniciativas de e-Cidadania e e-Democracia são apenas o começo de um movimento que pode levar a um Estado que presta todos os serviços digitalmente e, possivelmente, a uma democracia direta, onde os representantes são menos intermediários e mais facilitadores do processo decisório.
A possibilidade de um Estado totalmente digital é uma visão futurista que implica em serviços públicos mais eficientes, transparentes e acessíveis. Isso inclui desde a educação e saúde até a segurança e o transporte, todos gerenciados e otimizados através de plataformas digitais que permitem aos cidadãos uma interação direta e imediata com o governo.
Além disso, a ideia de uma democracia direta, potencializada pela tecnologia, sugere um cenário onde as decisões políticas são tomadas por meio de votações online e consultas públicas frequentes. Nesse modelo, cada cidadão teria a oportunidade de expressar sua opinião sobre questões específicas, tornando o processo democrático mais inclusivo e representativo da vontade popular.
No entanto, para que esse futuro se torne realidade, é necessário superar desafios significativos. A inclusão digital é um deles, garantindo que todos os brasileiros tenham acesso à internet e às competências necessárias para participar plenamente da democracia digital. Além disso, é preciso assegurar a segurança cibernética para proteger os dados dos cidadãos e a integridade dos processos democráticos.
Em suma, a democracia digital no Brasil tem um potencial imenso. Com investimentos contínuos em tecnologia, educação e infraestrutura, além de um compromisso com a inclusão e a segurança, o Brasil pode se tornar um exemplo global de como a tecnologia pode fortalecer a democracia e aproximar o governo dos governados.