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19/12/2024Justiça Comutativa
21/01/2025A expressão “uberização do trabalho” refere-se a um fenômeno contemporâneo que descreve a transformação das relações laborais mediadas por plataformas digitais, como a Uber, que conecta prestadores de serviços a consumidores de forma direta e sem intermediários. Esse modelo de trabalho, que se popularizou com o advento da economia de compartilhamento, caracteriza-se pela flexibilização das relações de trabalho e pela precarização das condições laborais, resultando em um novo tipo de controle e gerenciamento do trabalho que se baseia em algoritmos e na autossuficiência dos trabalhadores (Branco, 2023; Abílio, 2020; Moura et al., 2023).
A uberização do trabalho representa uma nova forma de acumulação capitalista, onde os trabalhadores, muitas vezes autônomos, assumem a responsabilidade pelos custos de produção e pela gestão de suas atividades, mas sem as garantias e direitos trabalhistas tradicionais, como férias, 13º salário e seguro-desemprego (Abílio, 2020; Ferraz & Ferraz, 2022; Moraes, 2024). Essa situação é particularmente evidente em setores como transporte, entrega de alimentos e serviços domésticos, onde a demanda por flexibilidade e disponibilidade imediata se torna uma norma (Branco, 2023; Guimarães et al., 2022; Neto, 2024).
Além disso, a uberização é frequentemente associada à informalidade e à vulnerabilidade social, especialmente em contextos de crise econômica, como a pandemia de COVID-19, que acentuou a precarização do trabalho e a insegurança financeira dos trabalhadores (Poli, 2024; Maciel, 2024; Neto, 2024). O fenômeno é caracterizado por uma dinâmica de trabalho que se baseia na “disponibilidade” constante, onde os trabalhadores são incentivados a estar sempre prontos para aceitar tarefas, o que pode levar a jornadas de trabalho extensas e extenuantes (Moura et al., 2023; Nobre, 2024).
A literatura acadêmica tem se dedicado a investigar as implicações da uberização nas relações de trabalho, destacando a perda de identidade coletiva e individual dos trabalhadores, que se tornam cada vez mais isolados e desprotegidos (Guimarães et al., 2022; Moraes, 2024; Machado & Zanoni, 2022). A precarização das condições de trabalho, que inclui a falta de benefícios e a instabilidade financeira, é um tema recorrente nas discussões sobre a uberização, evidenciando a necessidade de uma análise crítica sobre as novas formas de exploração que emergem nesse contexto (Machado & Zanoni, 2022; (Branco, 2023; Neto, 2024).
Os estudos também apontam para a necessidade de resistência e organização coletiva entre os trabalhadores uberizados, que, apesar das dificuldades, buscam formas de reivindicar direitos e melhorar suas condições de trabalho (Guimarães et al., 2022; Branco, 2024; Santos et al., 2022). Essa resistência é fundamental para enfrentar as dinâmicas de controle algorítmico e a desumanização do trabalho, que são características marcantes da uberização (Masson et al., 2021; Moraes, 2024; Abílio, 2020).
A uberização do trabalho, portanto, não é apenas uma questão de novas tecnologias ou modelos de negócios; é um fenômeno que reflete mudanças profundas nas relações sociais e econômicas, que exigem uma resposta crítica e uma reavaliação das políticas trabalhistas e sociais (Souza, 2023; (Branco, 2023; Abílio, 2020; Neto, 2024). O desafio é encontrar formas de garantir direitos e dignidade aos trabalhadores em um cenário onde a flexibilidade e a precarização se tornaram a norma.
A análise da uberização do trabalho também revela um paradoxo: enquanto oferece uma aparente liberdade e autonomia aos trabalhadores, na prática, essa liberdade é frequentemente acompanhada de insegurança e exploração (Poli, 2024; Abílio, 2020; Neto, 2024). A busca por soluções que promovam a equidade e a justiça social é, portanto, um imperativo diante das transformações que a uberização impõe ao mundo do trabalho (Machado & Zanoni, 2022; (Branco, 2023; Abílio, 2020; Neto, 2024).
Em suma, a expressão “uberização do trabalho” encapsula um conjunto complexo de mudanças nas relações laborais, que vão além da mera utilização de plataformas digitais. Trata-se de uma reconfiguração das dinâmicas de poder e controle no trabalho, que exige uma reflexão crítica e um engajamento ativo na defesa dos direitos dos trabalhadores em um mundo cada vez mais digital e precarizado (Souza, 2023; (Branco, 2023; Abílio, 2020; Neto, 2024).
Referências:
Abílio, L. (2020). Uberização: a era do trabalhador just-in-time?1. Estudos Avançados, 34(98), 111-126. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3498.008
Branco, P. (2023). Uberização: as quatro facetas do controle. Revista Tecnologia E Sociedade, 19(56), 303. https://doi.org/10.3895/rts.v19n56.14849
Branco, P. (2024). Precários, mas organizados: a estratégia de resistência dos uberizados. Cadernos Metrópole, 26(59), 123-142. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2024-5906
Ferraz, J. and Ferraz, D. (2022). Do espírito do capitalismo ao espírito empreendedor: a consolidação das ideias acerca da prática empreendedora numa abordagem histórico-materialista. Cadernos Ebape Br, 20(1), 105-117. https://doi.org/10.1590/1679-395120200246
Guimarães, S., Carrara, M., & Rocha, C. (2022). Desafios e alternativas às formas de resistência e organização coletiva da classe trabalhadora em contexto de plataformização do trabalho. Reciis, 16(4), 837-858. https://doi.org/10.29397/reciis.v16i4.3369
Machado, S. and Zanoni, A. (2022). Demandas de direitos no trabalho por plataformas digitais no brasil: o enfoque dos trabalhadores. Caderno CRH, 35, e022023. https://doi.org/10.9771/ccrh.v35i0.49416
Maciel, M. (2024). “saiu para a entrega”: prazer e sofrimento no trabalho de entregadores por aplicativos. Revista De Carreiras E Pessoas, 14(2), 309-328. https://doi.org/10.23925/recape.v14i2.59537
Masson, L., Alvarez, D., Oliveira, S., Teixeira, M., Leal, S., Salomão, G., … & Christo, C. (2021). “parceiros” assimétricos: trabalho e saúde de motoristas por aplicativos no rio de janeiro, brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 26(12), 5915-5924. https://doi.org/10.1590/1413-812320212612.14652021
Moraes, R. (2024). Uberização do trabalho: a percepção dos motoristas de transporte por aplicativos na cidade de goiânia.. Gestão & Regionalidade, 39, e20238117. https://doi.org/10.13037/gr.vol39.e20238117
Moura, L., Silva, L., & Aquino, C. (2023). É preciso estar disponível: a reconfiguração espaço-temporal da atividade de entrega subordinada mediante plataformas digitais. Psicologia Argumento, 41(113). https://doi.org/10.7213/psicolargum.41.113.ao011
Neto, F. (2024). As transformações da empregabilidade na sociedade brasileira: da uberização das relações laborais ao período pós-pandemia. Global Dialogue, 7(1), 121-135. https://doi.org/10.53660/gdia-196-509
Nobre, J. (2024). Uberização do trabalho e o trabalhador como efeito de redes. Cadernos Unifoa, 19(54), 1-16. https://doi.org/10.47385/cadunifoa.v19.n54.5034
Poli, P. (2024). Effects of lockdown on covid-19 incidence in the health emergency phase of the pandemic. Rev Rene, 25, e92274. https://doi.org/10.15253/2175-6783.20242592274
Santos, J., Kerber, G., & Rissi, V. (2022). “estamos sendo submetidos a uma escravidão disfarçada”: análise de relatos de motoristas de aplicativo à luz da psicodinâmica do trabalho. Psi Unisc, 6(2), 107-123. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v6i2.17330
Souza, A. (2023). Uma análise histórico-narrativa da consolidação das leis do trabalho… https://doi.org/10.18066/inic0513.23